Liberdade de imprensa em tempos de radicalismo

Os desafios do medo, do ódio e da generalização foi tema de painel de abertura de evento dirigido a jornalistas e advogados em Brasília

 Por: Samuel Amorim com colaboração de Lara Maria Reina,
Julia Galante Campos e Mariana Mendes
Fotos: Carlos Lopéz

O 11° Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, promovido pela Revista e Portal Imprensa na quinta-feira, 02 de maio, abordou “Os desafios do medo, do ódio e da generalização” em seu primeiro painel. André Marsiglia Santos, sócio-diretor do escritório Lorival J. Santos Advogados; José Casado, jornalista e colunista de O Globo; Rosane Garcia, subeditora de opinião do Correio Braziliense; e Tiago Mali, chefe de redação no Poder360 foram os palestrantes convidados. Já a moderação ficou sob a responsabilidade de Pedro Burgos, jornalista e professor do Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo do Instituto de Ensino Insper. O evento contou com a presença de jornalistas e advogados do DF.

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Abrindo o painel, Tiago Mali destacou a facilidade com que a informação circula na atualidade e chamou a atenção para a sobrecarga de trabalho nas redações, uma vez que há cada vez menos tempo para a checagem dos fatos e uma redução significativa no número de profissionais, ao mesmo tempo em que há mais pautas que requerem atenção especial.

“São desafios que a imprensa enfrenta, inclusive ao competir com as redes sociais. Muito preferem acreditar mais nas redes sociais do que na própria imprensa, o que aumenta o risco da desinformação”, afirmou. Ainda segundo ele, as redes acabam por criar bolhas onde os usuários só recebem notícias que confirmam seus pontos de vista, sem haver uma pluralidade de conteúdo para fomentar debates, o que torna as opiniões radicais.

Mali também destacou a perseguição de políticos à imprensa, o que, em sua opinião, acaba prejudicando muito o trabalho dos jornalistas. “Só nas últimas eleições, o número de queixas registradas solicitando a retirada de informações do ar chegou a mais 800”.

Rosane Garcia, utilizou seu momento de fala para refletir sobre a crise que vem atingindo as redações. Para ela, há poucos recursos para sustentar os veículos de comunicação e as verbas publicitárias têm sido cada vez mais escassas. Aliado a questão financeira, a jornalista lembrou os discursos feitos por políticos que depois são desmentidos, deixando que a culpa recaia sobre os jornalistas, o que também prejudica as redações, uma vez que fatos assim reduzem o espaço para atrair fontes que possam dar sustentabilidade aos veículos.

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André Marsiglia Santos, por sua vez, comentou sobre a censura sofrida pelos jornalistas. Ele também falou da violência, e como isso pode causar receios no exercício da profissão, deixando-a cada vez mais criminalizada.

Sobre a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que ordenou a retirada de matérias que citavam o ministro Dias Toffoli na Revista Crusué e no site O Antagonista, o advogado destacou que a questão em debate não é apenas a divulgação ou não dos textos, mas sim, o direito da sociedade à informação. Fazendo um paralelo, ele lembrou que as fake news são notícias sem dono, o que dificulta a identificação dos responsáveis. Em defesa da imprensa, completou: “os jornalistas têm o direito de informar e os advogados têm recursos para defendê-los”.

José Casado também falou sobre a liberdade de expressão e de imprensa. Para ele, essa ainda é uma das questões mais ignoradas no Brasil. “O que há é uma restauração da censura. Precisamos lutar pela manutenção do direito de livre expressão e dos diferentes canais de comunicação que possibilitam ao consumidor a escolher daquilo que é de seu interesse”.

Encerrando o painel, Pedro Burgos, destacou alguns dos principais pontos citados pelos palestrantes e afirmou que atualmente a imprensa tem sido desqualificada e atacada por políticos.  Segundo ele, para melhorar a confiança na imprensa, é necessário que os veículos “tenham autocrítica e transparência, pois muitas informações são publicadas sem dados para que o leitor possa confirmar”.

Entrevista

Após a mediação do painel, Pedro Burgos acrescentou pontos importantes sobre a democracia para o jornalismo:

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